sexta-feira, 30 de março de 2012


Ato em favor da ditadura revolta o governador Tarso Genro: ‘Isso é uma afronta!’

30/3/2012 14:36,  Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro - Correio do Brasil
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O tumulto em frente ao Clube Militar piorou com a ação truculenta da PM
A defesa do golpe de 1964, promovida nesta quinta-feira por militares aposentados e integrantes da ultradireita em um ato desautorizado pelas Forças Armadas, no Clube Militar, Centro do Rio, na opinião do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ex-ministro da Justiça, foi “uma afronta ao estado democrático de direito”. Genro, em visita ao Rio para uma solenidade da Biblioteca Nacional, cruzou a Avenida Rio Branco, em meio ao tumulto generalizado naquele trecho em frente à Cinelândia e não pode deixar de tecer uma crítica à atuação da PM, que agia com truculência contra os manifestantes.
– Na minha terra, nós mantemos um diálogo saudável com os movimentos sociais. Não usamos violência contra manifestantes – cravou.
A soldadesca que atirava bombas de efeito moral e gás de pimenta sobre quem protestava contra a indisciplina dos militares ou simplesmente passava por uma das esquinas mais movimentadas do Centro do Rio, no primeiro momento, parecia agir por conta própria. Um dos PMs do grupamento incumbido de retirar os amotinados do Clube Militar, um a um, em um corredor polonês até a entrada do metrô, espirrava uma solução de pimenta, indiscriminadamente, sobre os transeuntes.
– Não quero nem saber. Chegou aqui perto, vai levar um spray de pimenta pela cara – gritava.
Outros dois o acompanhavam no ato de violência contra os civis. A atitude, que parecia uma ação deliberada dos três indivíduos fardados, era no entanto uma ordem superior, mais precisamente do Major Luiz, que comandava a tropa:
– Dei ordens, sim, para dispersar a multidão. Qualquer tentativa de invasão de um prédio, no Centro da cidade, será repelida pela PM. Quem mais poderia fazer isso? Somos nós mesmos…
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Um militar faz gesto obsceno para os manifestantes
A tentativa de repelir os manifestantes, porém, não surtia efeito. Os ânimos estavam exaltados de parte a parte e, enquanto um militar aposentado fazia um gesto obsceno para o público, esse lhe devolvia uma enxurrada de insultos: “Assassino, torturador de m., covarde, estuprador” eram os adjetivos mais leves. Enquanto os acusados de torturar e matar prisioneiros durante a ditadura desapareciam nas escadarias do metrô, recebiam cusparadas e mais insultos.
– O Estado Maior das Forças Armadas deveria proibir esses militares insubordinados de promover um ato como este, de apoio à ditadura, à tortura, aos crimes cometidos durante os Anos de Chumbo – afirmou o ex-deputado pedetista Clemir Ramos, que participava do protesto.
Compartilhou da opinião a integrante do Grupo Tortura Nunca Mais Karla Santacruz, sobrinha de Fernando Santacruz.
– Meu tio desapareceu em fevereiro de 1974 e até hoje não soubemos mais notícias dele. Não sabemos, simplesmente, onde esconderam os restos mortais dele. E esses covardes ainda têm a cara de pau de promover um ato em defesa dos crimes que cometeram – afirmou.
Os mais de mil manifestantes que tomaram a frente do Clube Militar, aos poucos, iam se dispersando, já no final da tarde. Idem os defensores dos atos criminosos cometidos ao longo de 20 anos da história brasileira. A cidade ia ganhando seu ritmo normal e as explosões e o cheiro acre da violência passavam a dar lugar ao da pipoca quentinha ou do amendoim torrado na hora que, no início da noite, anima a volta para casa dos trabalhadores que não puderam participar de um ato cívico contra o regime ditatorial. Mas as marcas da revolta estavam por toda parte, bastava um olhar mais aguçado para perceber panfletos, rostos conhecidos, desaparecidos, lembrados agora, ainda que colados às paredes revistidas com o mármore negro das lembranças que preenchem a noite do Clube Militar.

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